Note: Portuguese sections of this interview are in bold, and the English sections are un-bolded.
Edra Soto is a multidisciplinary artist, educator and curator born in Puerto Rico and based in Chicago. She works between social practice, immersive installations and architectural interventions, employing materials and practices from post-colonial visual cultures to address issues of colonization, cultural identity, and relationships between communities. Edra Soto is also co-director of the outdoor project space THE FRANKLIN, in her backyard in Garfield Park.
Daniel Sabóia and Patricia Almeida, from TANTO, and Edra Soto are part of “Close to There <> Perto de Lá”, an artist exchange program between Salvador, Brazil and Chicago organized by Comfort Station in Chicago and Projeto Ativa in Salvador, with support from Harmonipan in Mexico City and Salvador. The program brings a multidisciplinary group of artists from Salvador to Chicago this August, and a cohort from Chicago will visit Salvador in 2020. In advance of the start of the program, Sixty Inches from Center moderated three conversations between artists on either side of the exchange.
Over the two weeks preceding the start of the program, the artists had a chance to get to know each other through a contemporary platform for remote collaboration: Google Docs. They researched each other’s work, and got to to ask a couple of questions of each other before the beginning of the exchange. This conversation was conducted entirely in English, and did not require intermediary translation. It was later translated for our Portuguese-reading audience. TANTO and Edra spoke about the place of architecture in their practice, about material and conceptual limitations they face, and about what each of them hopes to bring to Chicago over the course of the 10-day visit.
Edra Soto é uma artista multidisciplinar, educadora e curadora nascida em Porto Rico e radicada em Chicago. Ela trabalha entre prática social, instalações imersivas e intervenções arquitetônicas, empregando materiais e práticas de culturas pós-coloniais para abordar questões de colonização, identidade cultural, e relações entre diferentes comunidades. Edra Soto também é co-diretora do espaço THE FRANKLIN, em seu quintal em Garfield Park.
Daniel Sabóia e Patricia Almeida, do TANTO, e Edra Soto fazem parte do “Perto de Lá <> Close to There”, um programa de intercâmbio de artistas organizado pelo Projeto Ativa (Salvador) e pela Comfort Station (Chicago) com apoio do Harmonipan (Mexico City, Salvador). O programa traz um grupo multidisciplinar de artistas de Salvador a Chicago entre 9 e 19 de agosto de 2019, e leva um grupo de Chicago para a Bahia em fevereiro de 2020. Antes do início do programa, Sixty Inches from Center moderou três conversas entre artistas de cada lado da troca.
Ao longo das duas semanas antes do início do programa, os artistas tiveram a oportunidade de conhecer um ao outro por uma plataforma contemporânea para colaboração remota: Google Docs. Eles pesquisaram sobre o trabalho um do outro, e puderam fazer e responder algumas perguntas uns aos outros antes da chegada dos brasileiros a Chicago. Essa conversa foi conduzida inteiramente em inglês, e traduzida depois para o público leitor de português. TANTO e Edra falaram sobre o lugar da arquitetura em suas respectivas práticas, sobre as limitações materiais e conceituais que enfrentam, e sobre o que cada um espera trazer durante a visita de 10 dias a Chicago.
GRAFT, my ongoing architectural interventions, not only help me create a symbolic migratory gesture, but allows me to talk about the complex relationship between Puerto Rico and the US.
GRAFT inquires about the original authors of the rejas and quiebrasoles made in wrought iron and concrete and alludes to their importance in relation to Colonial architecture.
The manifestation of these patterns in artistic form is not uncommon among Caribbean artists. While quiebrasoles and rejas are popularly recognized in Puerto Rican’s visual culture, there is little exploration or research on the origin of these patterns. Contrary to the inundated familiarity of colonial architecture, vernacular architecture has yet to be included as an exploratory subject in primary and secondary education in the Caribbean. A significant aspect of GRAFT uncovers and honors the history that has been accepted rather than explained.
Looking at some of your projects, I am perplexed by the attention to detail, no matter how simple or common the function of the objects you choose to craft can be. Can you expand on the importance of detail in crafting your concepts?
GRAFT (“enxerto”), minhas intervenções arquitetônicas atuais, não somente me ajudam a criar um gesto migratório simbólico, mas também me permitem falar da relação complexa entre Porto Rico e os Estados Unidos.
GRAFT pergunta pelos autores originais das rejas e quiebrasoles feitos de ferro e concreto, aludindo a sua importância com relação à arquitetura colonial.
A manifestação desses padrões de forma artística não é incomum entre artistas do Caribe. Enquanto quiebrasoles e rejas são popularmente reconhecidos na cultura visual porto-riquenha, a origem desses padrões é pouco explorada ou pesquisada. Ao contrário da familiaridade inundada da arquitetura colonial, a arquitetura vernacular ainda não foi incluída como assunto a ser explorado na educação primária e secundária no Caribe. Um aspecto importante de GRAFT é descobrir e honrar essa história que foi mais aceita do que explicada.
Vendo alguns dos seus projetos, eu estou perplexa com a atenção de vocês aos detalhes, por mais simples ou comum que seja a função do objeto que vocês decidem fabricar. Vocês poderiam falar mais sobre a importância dos detalhes na construção dos seus conceitos?
There is also a very important thing that conditions our designs and details: budget restrictions! Almost every work we do has to deal with limited budgets and this ends up being an important influence on our designs’ language, as it defines what materials we can use, what craft techniques and so on. Also, the fact that we are almost never able to properly prototype our designs makes innovation more risky. We have to play more safely sometimes, structure-wise, and also work with construction methods and materials that are not too far from the usual, or craftsmen will charge more. But we’ve come to understand that it’s possible to take advantage of that and take the limitations as a way to potentialize creativity, searching for ways to innovate in spite of all those limitations.
What are the limits that you face on your practice and how has that influenced your work, from the time you were producing in Puerto Rico and since you’ve established in US?
Também há uma questão importante que determina nossos designs e detalhes: restrições orçamentárias! Quase todos os trabalhos que fazemos tem que lidar com orçamentos bem limitados e isso acaba por influenciar a linguagem do nosso design, já que define que materiais podemos usar, que técnicas de fabricação, e tudo o mais. Além disso, o fato que quase nunca podemos fazer protótipos completos dos nossos projetos torna a inovação mais arriscada. Às vezes procuramos o caminho mais seguro, do ponto de vista da estrutura, e trabalhamos com métodos de construção que não estão tão distantes do convencional, já que fabricadores qualificados cobram mais por processos diferentes. Mas chegamos ao entendimento de que é possível tirar vantagem dessas condições e tomar as limitações como uma maneira de potencializar a criatividade, procurando por maneiras de inovar apesar de todas essas limitações.
Quais são os limites que você enfrenta na sua prática, e como isso influenciou o seu trabalho, quando produzia em Porto Rico e desde que se estabeleceu nos Estados Unidos?
The type of work I’ve been producing in the last 15 years has gone through major trials defined by financial means or precariousness. I became creative to disguise those limitations and avoid making them a part of my subject. But nowadays, the financial limitations are subject to a project, case by case. Projects that I have crafted with conventional or found materials, usually have manageable budgets. Perhaps GRAFT is the project that has made me a more resourceful artist, for its financial demands. To manage some of these financial demands I’ve created various versions of GRAFT allowing me to focus on the site-specificity and community engagement the project can provide. Because of my strong belief in the project, I’ve been developing it in form and concept since 2012. The most financially demanding iterations of GRAFT have been accomplished through institutional grants or commissions.
Other types of limitations I constantly think about are the ones relating to work ethics. These limitations are self-imposed and usually related to a conceptual construct derived from the work being made. For example, as a symbolic architectural transplant that comes from Puerto Rico, it will be redundant to present the project GRAFT in Puerto Rico. But the GRAFT concepts are relevant to Puerto Rico, so they can be physically presented through documentation and literary mediums.
As I am writing this response, I am wondering what project you will be bringing to Chicago this summer? I look forward to seeing your project in person!
O tipo de trabalho que tenho feito nos últimos 15 anos passou por grandes provações, definidos pelos recursos ou pela precariedade financeiros. Eu me tornei criativa ao disfarçar estas limitações e ao evitar fazê-las parte do meu objeto de trabalho. Hoje, porém, essas limitações variam por projeto, caso a caso. Projetos que eu fabriquei com materiais comuns ou encontrados normalmente tem orçamentos mais razoáveis. Talvez GRAFT seja o projeto que tenha me tornado uma artista engenhosa, devido a suas demandas financeiras. Para arcar com algumas dessas demandas financeiras, eu criei várias versões de GRAFT, o que me permitiu lidar mais com a especificidade local e o envolvimento da comunidade que o projeto pode trazer. Porque eu acredito muito no projeto, eu tenho trabalhado e desenvolvido o conceito desde 2012. As versões financeiramente mais onerosas de GRAFT foram realizadas com bolsas ou comissões de instituições.
Outros tipos de limitação sobre os quais penso constantemente são aqueles que se relacionam à ética de trabalho. Essas limitações são auto-impostas, e normalmente se relacionam a um construto conceitual derivado do trabalho em processo. Por exemplo, como se trata de um transplante simbólico vindo de Porto Rico, é redundante apresentar o projeto GRAFT em Porto Rico. Mas os conceitos de GRAFT são relevantes para Porto Rico, então eles podem ser apresentados lá por meio de documentação e publicações.
Enquanto escrevo essa resposta, eu me pergunto que projeto vocês trarão a Chicago este verão? Aguardo ansiosamente para ver o projeto de vocês pessoalmente!
The Atlas we are proposing is something in between the idea of a box, a table and an exhibition. The box is meant to store, accumulate and organize the collected content, while the table is meant to offer it to manipulation and confrontation by the artists participating and the public visiting. The ways to display it will be found out through the process, together. We’ll invite the artists participating in Close to There to collaborate with content, primarily images, visual fragments of their works, thoughts, interests, research and anything else they find fit, so we can look together at all this diversity. One important reference to this work is the Atlas Mnemosyne proposed by German art historian Aby Warburg, between 1923 and 1929, where he would put together a very diverse group of images to compose transversal and unexpected readings on the history of art. It was an iconology of intervals, as Giorgio Agamben once said, because the most important were the spaces in between the images and not their singular aspects. Warburg liked to say that there were intimate and secret relations hidden behind images, and he looked for them through the Atlas. So I hope that maybe we can see – and build – some in-betweens in this process. And in the meantime show to the public some views of what the group is doing – not in a synthetic or unifying way, but rather a fragmented and sinoptical one, exposing the complexity and diversity of the creative singularities put together by Comfort Station.
What about you?
O Atlas que estamos propondo é algo entre a ideia de uma caixa, uma mesa, e uma exposição. A caixa é para guardar, acumular e organizar o conteúdo coletado, a mesa para oferecê-lo à manipulação e confrontamento pelos artistas participantes e o público visitante. Já as maneiras de exibir esse projeto vamos descobrir juntos, ao longo do processo. Vamos convidar os artistas participando do Perto de Lá para colaborar com conteúdo, principalmente imagens, fragmentos visuais de seus trabalhos, pensamentos, interesses, pesquisas e tudo o mais que achem pertinente, para que possamos visualizar juntos toda essa diversidade. Uma referência importante para esse trabalho é o Atlas Mnemosyne proposto pelo historiador da arte alemão Aby Warburg, entre 1923 e 1929, em que ele juntava um grupo muito diverso de imagens para compor leituras transversais e inesperadas da história da arte. Era uma iconologia de intervalos, como disse uma vez Giorgio Agamben, porque o mais importante eram os espaços entre as imagens e não seus aspectos singulares. Warburg gostava de dizer que havia relações íntimas e secretas escondidas atrás das imagens, e que ele procurava por elas por meio do Atlas. Então eu espero que nós possamos ver – e construir – alguns “entres” nesse processo. E enquanto isso, mostrar um pouco ao público algumas visões do que o grupo está fazendo – não de maneira sintética e unificada, mas de maneira fragmentada e sinóptica, expondo a complexidade e a diversidade das criatividades singulares reunidas pela Comfort Station.
E você?
I’ve been running THE FRANKLIN with my husband Dan Sullivan since 2012. THE FRANKLIN is a gazebo type of space designed by us and located in the backyard of our home. After completing my MFA at the School of the Art Institute of Chicago in 2000, the artist-run community in Chicago became my preferred to-go-to community. I was fascinated by the energy, enthusiasm, comradery and complicitness I kept finding while experiencing the artists-run spaces. This experience brought me lifetime friendships, my first exhibition at a major Chicago art museum and an invaluable collection of art that continues to grow. Exchange, support and the gift of visibility are all a part of the M.O. that motivates us to foster the artist-run model as an intricate part of our life philosophy.
Considering your interest in design and architecture, are there any particular buildings, landmarks or Chicago museums you are looking forward to visiting?
Eu organizo THE FRANKLIN com meu marido Dan Sullivan desde 2012. THE FRANKLIN é um tipo de gazebo que nós projetamos e que fica no nosso próprio quintal. Depois que terminei meu MFA (mestrado em belas artes) na School of the Art Institute of Chicago em 2000, a comunidade de espaços geridos por artistas em Chicago se tornou minha comunidade preferida de frequentar. Eu ficava fascinada com a energia, entusiasmo, camaradagem e cumplicidade que encontrava repetidamente na minha experiência nesses espaços. Essa experiência me trouxe amizades para a vida inteira, minha primeira exposição num grande museu de Chicago e uma preciosa coleção de arte que continua a crescer. Trocas, apoio e o presente da visibilidade são todos parte da nossa motivação ao promover esse modelo gerido por artistas como uma parte intrincada de nossa filosofia de vida.
Considerando seu interesse em design e arquitetura, haveria edifícios, marcos ou museus de Chicago que vocês querem visitar em especial?
As for places to visit, for this trip we are willing to get along with other artists in the activities promoted by “Close To There,” and it’s part of our proposal with the Atlas to try and follow what they are doing, so we can feed the archive through those shared experiences. We will also visit some spaces related to printing and photography, like LATITUDE. But of course, as architects, there are some very important masterpieces that we would love to visit, specially those designed by Frank Lloyd Wright. The Art Institute of Chicago is also a place that I’ve always wanted to visit, both for its collection and for its architecture. And the city itself, which we are very interested in experiencing during these next days, trying to feel its mood, seeing how the public spaces are occupied, and how the artists living there relate their work to the urban space.
Já sobre lugares para visitar, nós vamos nos juntar aos outros artistas nas atividades promovidas pelo “Perto de Lá”, e é parte da nossa proposta com o Atlas tentar seguir o que estiverem fazendo, para podermos preencher nosso arquivo com essas experiências compartilhadas. Também visitaremos alguns espaços relacionados a impressão e fotografia, como LATITUDE. Mas é claro, como arquitetos, há algumas obras-primas muito importantes que adoraríamos visitar, especialmente aquelas projetadas por Frank Lloyd Wright. O Art Institute of Chicago também é um lugar que sempre quis visitar, tanto pela coleção quanto por sua arquitetura. E estamos interessados em experienciar a cidade em si, nos próximos dias, tentando sentir seu humor, vendo como os espaços públicos são ocupados, e como os artistas vivendo lá relacionam seu trabalho com o espaço urbano.
LATITUDE is a great organization and you should definitely visit them. The Frank Lloyd Wright experience is always satisfying. While you are downtown visiting the Art Institute of Chicago and the Modern Wing, stop by Millennium Park to see Anish Kapoor’s Cloud Gate. Next door is the Chinatown for phenomenal architectural views. Before stopping by THE FRANKLIN on Saturday, take a moment to stop by Garfield Park Conservatory, two blocks away from us. GPC is a botanical garden with a remarkable plant collection and one of my favorite Chicago landmarks.
LATITUDE é uma organização ótima e vocês com certeza devem visitar. A experiência de Frank Lloyd Wright sempre satisfaz. Quando estiver no centro vendo o Art Institute of Chicago e a ala moderna, pare no Millenium Park para ver a escultura Cloud Gate do Anish Kapoor. Ao lado fica o Chinatown para ter vistas arquitetônicas fenomenais. Antes de chegarem ao FRANKLIN no sábado, passem pelo Garfield Park Conservatory, que fica a apenas dois blocos da nossa casa. O GPC é um jardim botânico com uma coleção de plantas notável e é um dos meus marcos favoritos em Chicago.
Footnote: [1] Literally, “rock paper treasure” a wordplay with “pedra papel tesoura” (“rock paper scissors”).
Featured Image: The members of TANTO Criações Compartilhadas. Left to right: Daniel Sabóia, Patricia Almeida, and Fabio Steque. / Os membros do TANTO Criações Compartilhadas. Esquerda à direita: Daniel Sabóia, Patricia Almeida e Fabio Steque.
“Perto de Lá <> Close to There” runs from August 9 through August 19, in Chicago, featuring a series of public events with the Brazilian artists in locations throughout the city. Read more of the interviews here.
Related events:
Molecular Revolutions and Domestic Institutions
hosted by Edra Soto and Dan Sullivan
August 10, 2019, 3-6pm
The Franklin: 3522 W Franklin Blvd, Chicago, IL 60624
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Comfort Society: Artist Organizing and Public Architecture with Daniel Saboia, Patricia Almedia, Lanussi Pasquali, and Latham Zearfoss, moderated by Jordan Martins
August 18, 2019, 1-2pm
Comfort Station: 2579 N Milwaukee Av, Chicago, IL 60647
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Marina Resende Santos is a guest editor for a series of conversations between participants of “Close to There <> Perto de Lá”, an artist exchange program between Salvador, Brazil and Chicago organized by Comfort Station (Chicago), Projeto Ativa (Salvador) and Harmonipan (Mexico City) between 2019 and 2020. Marina has a degree in comparative literature from the University of Chicago and works with art and cultural programming in different organizations in the city. Her interviews with artists and organizers have been published on THE SEEN, South Side Weekly, Newcity Brazil, and Lumpen magazine. / Marina Resende Santos é editora convidada de uma série de conversas entre participantes de “Perto de Lá <> Close to There”, um programa de intercâmbio de artistas entre Salvador e Chicago, organizado pelos projetos culturais Comfort Station (Chicago), Projeto Ativa (Salvador) e Harmonipan (Cidade do México e Salvador), entre 2019 e 2020. Marina é graduada em literatura comparada pela University of Chicago e trabalha com programação artística e cultural em diferentes organizações em Chicago. Suas entrevistas com artistas e organizadores foram publicadas nas plataformas THE SEEN, South Side Weekly, Newcity Brazil, e Lumpen Magazine.